Saturday, July 22, 2006

O povoamento do Vale I

Foi um dia de grande tempestade. O barco recém naufragado era uma caravela do século XVI, muito usada pelos europeus que vinham tentar a sorte no Brasil. Os rochedos e recifes traiçoeiros eram infelizmente comuns naquela parte do nosso litoral. As caravelas eram barcos muito frágeis, embora fossem os melhores disponíveis naqueles tempos. Os pilotos ainda não sabiam direito como se conduzir naquelas águas desconhecidas. E aquela foi uma grande tempestade.
Na beira da praia, cheia de destroços, Jacques Filipoux acompanhava aquele inglês meio doido, que dizia sem parar: "my daughters... O my daughters..."
Jacques tinha vindo com seus três filhos fazer comércio na costa. Ele trazia esmeraldas do Vale do Piraruçu para trocar por diversas mercadorias e por gado bovino com João Valente, seu velho amigo. Para tanto, precisava dos seus três filhos maiores. O resto de sua imensa família, sete irmãs índias, que eram suas mulheres, seu sogro, o antigo pajé da tribo da costa que agora era totalmente cristianizada, e suas filhas, vinte indiazinhas bem encrenqueiras, ficara no Vale do Piraruçu. Jacques pensava que não era bom que seus filhos só conhecessem as irmãs, afinal era incesto, eles precisavam povoar a terra com sangue estrangeiro, não irmão... mas por outro lado, os índios vizinhos eram muito selvagens e os colonos eram aventureiros que só queriam voltar ricos para Portugal... então aparecera aquele inglês, com esta história de "my daughters, my daughters..."
Jacques falava muito pouco inglês. E mesmo o francês, além de ser com sotaque normando, ele tinha quase que esquecido. Ele se dava melhor com o português seiscentista dos colonos, mas a língua dele mesmo era o guarani das tribos do litoral. O homem que andava com ele pela praia não falava português e nem guarani. O jeito então era o Jacques puxa da memória algumas palavras francesas e inglesas, que não usava desde os tempos de pirata e traficante de pau-brasil.
- Your daughters... votre filles?- Oui, oui... my filles... mom daughters... ou est mon trois filles?
O francês do inglês não era muito melhor que o inglês de Jacques... eles se entendiam mais na base da mímica que conversando. Mas depois de andarem por mais de meia hora por aquela praia deserta, Jacques viu um dos seus três filhos chegar com uma moça loira. Quando ela viu o pai ao lado de Jacques Filipoux, correu até ele, e chorando pai e filha se abraçaram...
Enquanto isso, Jacques e seu filho conversavam em guarani:
- Esta moça, José, onde estava? - o menino se chamava José por ser fácil de pronunciar em guarani e por ter nascido no dia de São José do Egito. Os outros filhos se chamavam Tiago e Davi, também por motivos semelhantes.- Estava a um quilometro daqui, meu pai. Ela estava desmaiada em um bote, com mais três homens mortos...- Que coisa horrível! Foi sem dúvida uma terrível tempestade, esta que se abateu por estas costas!- Sem dúvida! Meus irmãos saíram a procurar por mais duas moças, pois parece que este homem teria mais duas filhas...
Jacques olhou para a moça, que ainda chorava, abraçada ao pai dela. Tanto pai quanto a filha estavam em farrapos, e choravam. Um dizia chorando: "O Lucy, my daughter... O, Jane and Frances...", e a outra respondia, chorando também: "My sisters... my kind sisters..."
Jacques admirava a pele branquíssima dos dois. Ele próprio, Jacques, também era muito branco, loiro, mas depois de quase quarenta anos de sol tropical ele agora era bastante bronzeado, parecia até um índio... pelo menos era tão moreno quanto os filhos caboclos que tinha criado naquele fim-de-mundo, tão distante da Inglaterra e da Normandia...
De repente o vento sacudiu as roupas da donzela da terra de santo Graal, e Jacques teve um vislumbre das nádegas pequenas mas redondas de Lucy, a filha que tinha sido encontrada. Estavam cheias de marcas vermelhas de dedos, bastante machucadas. Jacques conhecia muito bem aquelas marcas, devido a ter que disciplinar sete esposas índias bastantes fogosas, e várias filhas adolescentes, muito rebeldes, e perguntou ao José:
- Você deu palmadas nela, meu filho?- Tive que dar, pai. Me lembrei do que o senhor disse, que não se deve bater na cara e nem em partes vitais do corpo de uma moça, nas meninas se deve bater nas nádegas... e foi o que eu fiz.- E você pode me dizer o motivo?- Bem... como eu dizia, nós a encontramos com três homens mortos em um bote, e ela estava inconsciente. Meus irmãos saíram atrás das irmãs dela, e eu fiquei junto ao bote, para evitar que acontecesse algo com ela. Então, depois de uns minutos, eu a vi se levantando, e ela percebeu que seus companheiros estavam mortos. Me viu, e se afastou com medo, pois não sabia que eu era de paz e queria ajudar...- E você, o que fez?- Eu fui atrás dela, sem ameaçar, esperando ela se acalmar... de repente, ela correu até um objeto que tinha ido dar na praia, e pegou uma espada e me ameaçou. Eu me afastei, mas continuei olhando ela, a distância... ela resolveu por algum motivo correr atrás de mim com a espada, e tentou me atingir... estava muito perturbada.- E...?- Eu então fui me afastando dela a medida em que ela me ameaçava... mas ela queria me pegar... - o moço olhou para a filha do inglês e riu - vê se pode, pai, uma menina que mal deve ter entrado na puberdade... mas ela já tem umas nádegas bem feitinhas...- Bom, e aí...- Aí ela caiu e largou a espada. Eu a deixei se levantar, sem ameaçar nem nada, olhando calmo para ela, achando que aí ela entenderia que eu não sou inimigo... mas qual, ela se levantou e tentou me ferir com a espada, correndo atrás de mim. Resolvi então que era hora de acabar com a brincadeira, e tomei a espada dela.- E ela?- Ficou ainda mais doida. Ficou me esmurrando com as mãos, e me arranhando... menina boba, eu sou o dobro dela, e ainda estava com a espada!- Ela estava perturbada, com o naufrágio, a perda dos parentes próximos, e ainda a morte dos companheiros... devemos desculpá-la.- E eu a desculpo, pai. Mas ela ficou querendo tomar a espada e me bater... eu precisava fazer algo para acalmá-la, não precisava?- E deu palmadas nela!- Até aí, não. Eu a pus em cima do meu ombro esquerdo, e a levei para uma fonte, perto da praia para molhar ela com água doce... mas ela ficou arranhando e esmurrando minhas costas, e isso me atrapalhava muito... então eu resolvi a questão de uma vez: me sentei em uma rocha perto da fonte, deitei a moça no meu colo, de bruços, rasguei os trapos com que ela cobre as nádegas e PLAFT, mandei palmada.
Jacques olhou outra vez para as nádegas da moça. Estavam bem vermelhas...
- Você bate bem, hein filho?- Não papai... é que a pele dela é muito clarinha e sensível... eu dei muitas palmadas, porque ela demorou a se acalmar, mas não bati muito forte.- Ela então demorou a se acalmar?- Nossa, papai... o que ela se sacudiu! Mexia os braços, mexia as pernas, tentava me atingir com o calcanhar, me arranhava e me esmurrava e me mordia... eu só ria das tentativas infantis dela me machucar e depois de cada gargalhada eu dava uma palmada um pouco mais forte nas nádegas dela... depois de um tempo ela resolveu se proteger, pondo a mão na frente do traseiro, mas eu bati então por cima da mão e ela tirou a mão rápidinho... ela gemia de dor, soprava a mão e já tinha deixado de tentar resistir de modo tão pueril e infrutífero...- Então, José, você aí terminou a surra?- Depois disso, dei mais umas dez palmadas e dei a surra por terminada. Eu a levantei do meu colo e fiz sinais para ela se lavar na fonte. Ela olhava emburrada para mim, então eu levantei a mão na direção das nádegas dela, e ela se assustou e se lavou com a água da fonte... fiquei olhando para ela severamente, enquanto a água da fonte lavava a água salgada do mar. Ela precisava mesmo de um banho de água doce, e se sentiu melhor. Então fiz sinal para ela me acompanhar, e vim até aqui, encontrei você e o pai dela, e é isso.
Jacques olhou então para o Inglês e sua "daughter". Ele era um senhor de cerca de cinqüenta anos, e ela era uma bela donzela de mais ou menos dezesseis anos. Ambos eram muito brancos, e o José comentou que o cabelos deles eram muito parecidos com os de Jacques.
- Parecidos não, meu filho, idênticos. Você não nota porque neste sol desta terra de pau-brasil eu fiquei muito bronzeado, mas eu era loiro como eles quando vim dá nesta terra.... depois vivi com índios, depois virei ermitão... depois fui para o Vale do Piraruçu, onde casei com sua mãe e suas seis tias, e desde então faço comércio com os colonos do litoral.... mas isso tudo é uma muito longa história...- Bom, é melhor a gente ir andando, pois temos que encontrar o Tiago e o Davi, que foram atrás das irmãs dela... oxalá sejam tão belas quanto esta moça, de nome... ?- Eu ouvi o pai dela chamá-la Lucy, mas você tem razão, temos que achar seus irmãos e quem sabe suas cunhadas...
José ficou sério enquanto Jacques Filipoux ria...
* * *
- HEY, JANE!- O GOD, MY DAUGHTER!
Ao lado da Jane, um homem, no qual José e Jacques reconheceram Tiago, estava feliz e satisfeito por encontrar o pai e o irmão.
Enquanto a família inglesa se abraçava e se congratulava, Jacques, Tiago e José se sentaram para descansar e conversar.
- Bem, Tiago, achamos duas filhas do inglês... faltam uma, e um filho meu...- O Davi foi atrás da terceira, meu pai... mas cá entre nós, que mocinha difícil!- Difícil como?- Tive que dar palmadas nela!- Você também?
Então o Tiago contou para o pai e para o irmão como encontrara aquela moça de dezessete anos desmaiada numa praia... ao lado dela, havia um bote cheio de homens mortos... ela estava tão quieta que parecia morta, mas ele notou que a moça ainda respirava debilmente... então, ele decidiu levá-la nos braços até uma fonte, onde a lavaria da água salgada do mar... e ela despertou, e o primeiro impulso da moça foi atacar o salvador dela, pois afinal não sabia se ele era amigo ou inimigo.... mas pelo jeito ele parecia mais um inimigo, afinal tinha tirado parte das roupas de tão pudica donzela... na verdade, as roupas da Jane estavam todas cheia de água salgada, e era melhor tirar e lavar... mas ela não entendeu ou não quis entender, e sentiu-se ultrajada. Ela saiu da fonte e tentou cobrir-se c0m os trapos que ele havia acabado de rasgar. Ele não deixou, tomou os trapos da mão dela e a mandou, através de sinais, voltar para a fonte. Ela não obedeceu e quis correr dele.
- Eu então a agarrei e a carreguei até a fonte... ela não me entende, ou é desobediente assim mesmo?- Não sei...- De qualquer forma, eu não podia permitir que ela não se banhasse, e a joguei na água doce de novo... bom, ela ficou me esmurrando e me arranhando, e eu então resolvi a questão a nossa maneira: deitei ela no meu colo e mandei palmada...
E o Tiago contou como ele bateu nela, não muito forte, afinal era uma mocinha perturbada, mas o bastante para a pele branca dela se avermelhar... os dedos deixavam marcas por toda parte, e ela antes protestava coisas ininteligíveis na língua dela... mas depois ela gemia, sentida e submissa... e com o rosto inchado de chorar, ela se lavou na água da fonte, mesmo porque precisava refrescar as nádegas.
- Eu também bati na Lucy, Tiago... e pelo mesmo motivo.- E reparou como as nádegas delas são brancas?- Se reparei! Eu nunca imaginei que um traseiro pudesse ser tão branco assim!- Sabe o que eu andei pensando? Que quando a gente briga com nossas irmãs e damos nos traseiros delas, elas não ficam tão vermelhas, seja porque a pele delas não é tão sensível, seja porque a nossa cor é mais escura... palmada num traseiro branco é melhor, porque a gente ver com mais nitidez as marcas dos dedos, a gente ver o desenvolvimento da surra...- Talvez vocês casem com elas, e então terão filhos com elas, e então poderão ver traseiros branquinhos se avermelharem a vontade... - disse Jacques, em tom de pilhéria, e os três homens riram, enquanto o inglês e suas filhas comentaram que sorte tiveram em encontrar tão boa gente, que cuidou tão bem deles, e os salvou de morrer naquela terra estranha...
Mas ainda sobrara a terceira filha, Frances, por sinal a mais velha, de dezoito anos. Esta tinha se perdido e o Davi tinha ido atrás dela.
* * *
Depois de andarem por meia hora, eles encontraram uma moça de dezoito anos, que corria feito louca pela praia. Atrás dela, Davi.
- HEY, THIS IS JANE!- SISTER, ARE YOU WELL?- STOP, JANE, STOP NOW!
Mas a moça não parava, pelo contrário, ela continuava a correr, feito louca...
Quando Davi viu o pai com os irmãos e a família inglesa, ele parou, pois estava cansado. A inglesinha correu na direção do grupo que vinha salvá-la, mas ela não parou. O inglês teve que segurar a filha, e ela não reconhecia o próprio pai, tentava bater nele, arranhá-lo...
O inglês pegou um galho de uma arvore e, tendo forçado a filha a se ajoelha, arrancou os trapos que cobriam as nádegas da donzela, e desceu a vara:
VUPT, VUPT, VUPT...
O assobio que vara fazia no ar, o barulho da vara dando no traseiro da mocinha, os gemidos e as imprecações inglesas do pai dela ecoaram pela selva brasileira, e os todos olhavam admirados para a cena. Jacques e as duas moças nem tanto, mas os três irmãos, Tiago, Davi e José, olhavam espantados para aquilo. Eles achavam que em bunda de moça só se devia bater com a mão, e além disso não imaginavam que aquele traseiro tão delicado, com pele tão fina, pudesse resistir a uma surra de vara.
Mas o inglês, pelo jeito, conhecia bem a resistência das filhas, tanto que só parou depois de muito tempo, com o traseiro dela bem machucado. Faltou pouco para sangrar.
Ele então deu ordens em inglês para a filha. Ela obedeceu, submissa. Ela mandou ela fazer o que as irmãs tinham feito, se banhar numa fonte de água doce, e tendo feito isso, a inglesinha se sentiu melhor. Era noite, e as oito pessoas que compunham aquele grupo se preparam para dormir. Jacques fez uma fogueira e ao redor dela os filhos dele fizeram oito leitos de folhas verdes. Dormiram ao relento, tendo por teto o cruzeiro do sul. As três inglesinhas dormiram de bruços.
Antes de dormir, Jacques comentou com o estrangeiro, naquele inglês estropiado que Jacques tinha, que ficara impressionado com a surra que ele havia dado na própria filha, e o inglês respondeu:
- Excuse me, sir, but my daughters, sometimes, are rebels... and so, ...they need a good trashing across the buttocks
* * *
- São suas três noivas, meus filhos, vocês vão casar com elas. O pai delas, que se chama John Smith, disse que elas gostaram de vocês e vocês, pelo jeito, gostam delas...
Três meses tinham se passado. Eles estavam de volta ao Vale do Piraruçu. A familia inglesa tinha vindo com eles.
- Mas pai, eles não querem viver entre os colonos portugueses? - perguntou Tiago.- Não, meu filho, porque o John Smith é um condenado a morte. Ele fez pirataria contra os portugueses no Brasil, se for viver entre os civilizados ele será executado.- Então, pai, podemos desde já deflorar estas inglesinhas? - disse o José - Estou doido para transformar minha Lucy numa mulher...- Daqui a alguns meses, um padre missionário virá aqui, casará vocês e vocês serão batizados... espero que Deus me perdoe tanto pecado de minha parte, vivendo com suas mães e suas tias, sendo todas minhas mulheres... bom, pelo menos a Iracema vai casar bem, o John Smith está gostando dela, vejam...
De fato, a cabocla Iracema, filha de índia e francês, estava rindo e brincando com o inglês Jonh Smith.
Os filhos de John Smith, José, Tiago e Davi com Iracema, Lucy, Jane e Frances foram bem brancos: um quarto de sangue normando, um quarto de sangue índio e dois quartos de sangue inglês. Jacques Filipoux, que nasceu loiro e ficara caboclo sob o sol do Brasil, teve vários netos e netas loiras, todos com olhos claros, bem azuis... várias gerações e trezentos anos depois o elemento negro veio povoar o Vale do Piraruçu de mulatos e mulatas, assunto este que será comentado mais tarde.

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